Segundo investigação, quadrilha atuaria em espionagem industrial e
casos de infidelidade
Uma operação da Polícia Civil de São Paulo desbaratou quadrilhas de
dois detetives particulares que quebravam ilegalmente sigilos
telefônicos, bancários e fiscais. Os dados eram usados em
espionagem industrial e investigações sobre infidelidade conjugal.
Uma das vítimas dos criminosos foi o deputado federal José Aníbal
(PSDB). "Isso vem confirmar que o grampo ilícito está se tornando
um problema muito grande no país. Milhares de pessoas podem estar
sendo vítimas desse crime", disse ele.
Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de
Investigações Sobre o Crime Organizado), criminosos obtiveram
registros de ligações feitas pelo deputado, mas nenhuma conversa
foi gravada.
Fontes diz não ter identificado o interessado em comprar dados
sigilosos de Aníbal, mas crê que um dos objetivos era identificar
contatos políticos do deputado. O delegado não descarta a
possibilidade de outros políticos terem sido investigados ou terem
pagado para receber dados sigilosos.
O Deic prendeu nove suspeitos de duas quadrilhas chefiadas pelos
donos de agências de detetives Domingos Esteves Júnior, 52, e
Rosimeire da Silva Scrittore, 47. As quadrilhas eram contratadas
sobretudo por empresários interessados em espionagem industrial e
por pessoas que desconfiavam da fidelidade dos cônjuges. O Deic
também investiga a possibilidade de que os criminosos possam ter
agido para obter informações sigilosas para políticos.
Os detetives entravam em contato com funcionários de bancos e de
empresas de telefonia que integravam as quadrilhas. Em troca de
pagamentos entre R$ 200 e R$ 2.000, obtinham extratos bancários,
registros de chamadas telefônicas e escutas telefônicas ilegais.
Os detetives vendiam as informações por preços que variavam de
acordo com o interessado e com a pessoa investigada. "Centenas de
pessoas tiveram seus sigilos quebrados. Já tomamos depoimento de
30 dessas vítimas", disse Fontes.
O esquema ilegal começou a ser investigado pelo Deic em 2004. Na
ocasião foi descoberto um grupo envolvendo cinco policiais civis.
Eles falsificavam mandados de quebra de sigilo telefônico e os
enviavam para empresas de telefonia.
Sem saber do esquema, as empresas forneciam dados sigilosos e até
gravavam conversas, que eram então vendidas para pessoas que
contratavam os policiais. No decorrer das investigações sobre os
policiais, o Deic identificou duas quadrilhas de detetives
particulares.
Foram pedidas prisões de 20 pessoas, mas a Justiça só concedeu
dez mandados -nove foram cumpridos. Além de Esteves Júnior e
Rosimeire Scrittore, foram presos os operadores de telefonia
Aline Aparecida Cerqueira de Moura, 28, e Simone Sampaio dos
Santos, 36; o prestador de serviços César Barbosa Costa, 31; o
bancário Marcos Palace Chagas, 47; a intermediária entre os
detetives e os funcionários de operadoras Elisângela Novais da
Silva, 32; seu namorado, Daniel Aparecido da Silva, 30, e sua
funcionária Flávia Priscila de Paula, 26.
Também foi identificado um coronel da reserva da PM suspeito de
intermediar aluguel de aparelho que faz escutas por R$ 2.500 por
15 dias.
Os cinco policiais e o coronel da reserva estão em liberdade e são
investigados pela Corregedoria da Polícia Civil. Segundo a
polícia, não é mais possível falsificar mandados de quebra de
sigilo.
Segundo Aníbal, a polícia lhe mostrou duas gravações. Numa, duas
mulheres teriam pedido registros das chamadas do número da
secretária do deputado em Brasília. Na outra, um homem recebeu
dados sobre Aníbal. O deputado diz ter pedido ao secretário de
Segurança, Ronaldo Marzagão, que descubra quem pediu o grampo.