sexta-feira, 20 de junho de 2008

Um arraial em Paris, bem longe da França, ajuda a afastar jovens das drogas


Morillo Carvalho
Enviado especial
 




Roosewelt Pinheiro/ABr
Campina Grande (PB) - Marlene Oliveira Lima, fundadora da quadrilha Arraial em Paris, confecciona roupas para apresentação do grupo de dança Campina Grande (PB) - Marlene Oliveira Lima, fundadora da quadrilha Arraial em Paris, confecciona roupas para apresentação do grupo de dança
Campina Grande (PB) - Pobre, o Bairro de Cuités, em Campina Grande (PB), fica bem longe da França. Mas é nele que 32 jovens dançam, se divertem e fogem das drogas, na quadrilha Arraial em Paris.

O nome não é nenhuma analogia à capital francesa ou à origem das quadrilhas, que se deu naquele país, mas ao nome da principal avenida do bairro. E a dedicação dos jovens à arte assegura a mente ocupada, durante o tempo livre.

Fundada em 1991 pela dona Marlene Oliveira, costureira de 55 anos, uma amiga e um sobrinho, a quadrilha coleciona 50 troféus e, mais do que prêmios para o grupo, vitórias para a comunidade.

Não é à toa que jovens já deixaram as drogas depois de entrar para a Arraial. Com ensaios de setembro a junho, três vezes por semana, eles também têm que se esforçar para buscar patrocínios e promover os bingos para pagar os figurinos.

"Muita gente me pergunta: o que é que eu ganho com isso? Eu digo que me sinto bem, porque, enquanto isso, estou tirando o jovem do mau caminho. Eles vêm para cá, ajudam a gente a confeccionar, eles bordam, estão sempre aqui. Inclusive só em julho eu ponho minha casa em ordem, no resto do tempo, minha casa é sempre uma farra", brinca dona Marlene.

Ela ilustra a satisfação de trabalhar com os jovens com a história de um adolescente que, a princípio, tinha vergonha de entrar na casa dela, mas que não conseguiu resistir à dança.

"Ele admirava o espetáculo, mas tinha medo de se sentir rejeitado – motivo aparente pelo qual ele recorria às drogas. Ele era abandonado e não se sentia capaz", lembra. Vencidos os obstáculos da rejeição e das drogas, dona Marlene conta que o rapaz se tornou um dos quadrilheiros mais animados e, hoje, ele continua dançando, mas em outra quadrilha.

A comparação das quadrilhas com as escolas de samba cariocas, feita pelo coordenador de Cultura do município, Alexandre Tan, se confirma na Arraial em Paris. A simplicidade das pessoas e das casas do bairro não reflete nas apresentações. Ainda que não sejam usados muitos recursos cênicos, a indumentária é sofisticada – o figurino é preparado por dona Marlene e mais duas costureiras.

"A gente se vira. Mas, como somos uma quadrilha humilde, e sabemos que não temos de onde tirar, gastamos de R$ 4 a R$ 5 mil, com as ajudas [patrocínios e dinheiro arrecadado com os bingos]", conta a costureira.

O marcador da quadrilha – personagem que conduz o grupo, pontuando as evoluções –, Givanilson de Sousa, tem 27 anos, trabalha nesta função há 14 e tem um caso de amor com a quadrilha Arraial em Paris, da qual faz parte há dois anos. Ele concorda que a quadrilha é uma boa maneira para afastar os jovens da criminalidade.

"A gente tem que arrancar os jovens da violência e das drogas. Não é fácil, num bairro carente como Cuités, e ela ocupa a mente deles. Nosso trabalho não é só fazer quadrilha, porque é o que a gente gosta, mas fazer um trabalho social. Isso é o mais importante para nós", salienta.

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