sábado, 14 de junho de 2008

Lula pede ajuda para criar programa de microcrédito voltado à extrema pobreza

Brasília - O bengalês Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz e criador do primeiro banco de microcrédito do mundo, pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que vá à reunião de Cúpula do G8, marcada para o começo de julho, no Japão. "Lula disse que vinha hesitando se iria ou não. Expliquei que a voz dele é muito importante. Não é apenas a voz do Brasil, é a voz de muitos países no mundo inteiro", relatou Yunus ao final da reunião, que durou de cerca de uma hora e meia, no Palácio do Planalto. No encontro, o presidente pediu a Yunus ajuda para desenvolver no Brasil um programa de microcrédito voltado à população que vive na extrema pobreza.

Pela quarta vez consecutiva, Brasil, Índia, China, África do Sul e México foram convidados a participar do encontro anual que reúne os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia. Os cinco, no entanto, não têm voz ativa e reivindicam a efetiva integração ao G8. Cansado de ser figurante, Lula chegou a cogitar não participar da cúpula deste ano, mas há dez dias anunciou que decidiu ir. "O presidente Lula é uma pessoa muito admirada pelo mundo, sua voz reflete a voz do Terceiro Mundo, é uma voz de confiança que dá esperança a todos nós", disse Yunus.

Segundo ele, seu encontro com Lula seria apenas uma visita de cortesia e acabou se transformando em uma produtiva reunião de trabalho. O presidente falou sobre a experiência brasileira de concessão de microcrédito e pediu ajuda para implementação, no Brasil, de programas como os do Grameen Bank, voltados ao financiamento de atividades produtivas para pessoas em situação de extrema pobreza.

A idéia, segundo Yunus, é que o governo federal defina uma região do Brasil para a adoção de um programa modelo por uma equipe do Grameen Bank. "Ele poderia escolher a região mais difícil, onde nada chega, onde nada dá certo. Ficaríamos felizes de começar num lugar desses para mostrar que funciona até nas áreas mais difíceis", explicou.

A exemplo de experiências semelhantes em outros países, o Brasil entraria com US$ 6 milhões para a concessão de financiamentos de US$ 200, em média. O programa teria duração de quatro anos e, simultaneamente à implementação, os bengaleses treinariam técnicos brasileiros para reproduzir a experiência em outras regiões do país.

Em nome de seu país, Yunus pediu apoio do governo brasileiro para a criação, em Bangladesh, de um sistema nacional de saúde pública nos moldes do SUS. Na mesmo instante, Lula ligou para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que estava em Buenos Aires, e não pôde participar da reunião. "Vamos ter uma série de reuniões com o ministério para ver como podemos nos beneficiar com a experiência do Sistema Único de Saúde", contou Yunus.

Bangladesh também pretende contar com apoio brasileiro no desenvolvimento do setor agrícola. Chamado pelo presidente Lula, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, participou da reunião de ontem (12) e marcou para hoje (13) de manhã novo encontro com Yunus. Mais de 70% da população de Bangladesh depende da agricultura ou de atividades relacionadas. "Os preços crescentes dos alimentos e a crise global da agricultura serão a principal manchete dos próximos anos. O Brasil está bem adiantado nesta área, bem à frente e queremos aprender com o Brasil", disse Yunus.

Mylena Fiori/Agência Brasil
 

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